Castelo de Areia
- Douglas Calado
- 30 de jul.
- 2 min de leitura

Eu construí um castelo.
Desses encantados, mas não de uma forma boa…
Era um castelo de areia, erguido às pressas,
com muralhas feitas de grãos do tempo.
E cada punhado de areia... um medo.
Um castelo feito com mãos trêmulas de quem aprendeu a se proteger,
um castelo feito não para ser habitado por outros,
mas para me esconder dos vestígios do que doeu.
Eu morei ali por muito tempo,
num reino de silêncios,
com janelas viradas pro nada.
De lá, eu via o mundo, mas nunca deixava que o mundo me visse por inteiro.
Fechei os portões…
e conversei por anos apenas com meus fantasmas.
Era frágil, sim, mas não no que parecia.
Era frágil porque era feito de medo.
Medo de sentir demais.
Medo de esperar o que nunca veio.
Medo de não ser o suficiente,
ou de ser… e mesmo assim não bastar.
E então você chegou.
Não gritou, não exigiu abrigo, não exigiu chave...
Tinha o sol nos olhos e o riso de quem não tem medo de maré alta.
Com a calma de quem sabe que algumas ondas não vêm pra destruir,
mas pra libertar.
Sendo apenas água.
E a água sabe seu tempo,
nao força...
mas insiste.
Você encostou no meu castelo sem pressa.
Não invadiu.
Apenas deixou que a água dos seus gestos o cercasse devagar.
Até que a areia começou a ceder…
não com violência, mas com calma.
E a areia… foi voltando à terra,
e o medo… foi voltando ao vento.
Tua presença me mostrou que o que eu chamava de abrigo
era só uma prisão bem decorada.
Cada palavra sua foi uma onda.
Cada toque, um sopro de mar.
Cada ausência…
um puxar de onda que me fazia querer mergulhar mais fundo.
E eu que fugi por tanto tempo,
me vi ficando,
me vi querendo.
Querendo ver o que nasceria depois do medo.
Depois da areia.
Às vezes, ainda penso em correr,
em levantar outro castelo em outra praia.
Mas a lembrança do seu sorriso me ancora.
A lembrança do nosso primeiro abraço,
do silêncio confortável,
dos olhos que disseram tanto sem precisar gritar.
Você é mar.
E eu… por tanto tempo, fui cais enferrujado.
Você me ensinou que nem todo mar engole.
Alguns salvam.
E mesmo que eu ainda não saiba dar nome ao que sinto,
mesmo que eu ainda me perca entre ondas e receios,
eu sei:
você não é perigo.
Você é porto.
E o que sobra,
depois que o castelo cai,
não é ruína...
É liberdade. Douglas Calado 30 de Julho de 2025 Maceió/AL
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